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Elisabeth Antonelli
agosto 8, 2016

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O ciclo da violência contra a mulher

A importância de acreditar na percepção das mulheres vítimas de violência doméstica.

Nesse domingo, 08 de agosto, o Jornal O Estado de São Paulo publicou um importante artigo com o título DPs não registram agressão à mulher; medida protetiva demora até 4 meses, no qual demostra a desvalorização da palavra da mulher, vítima de violência doméstica, por parte de agentes e dispositivos sociais que supostamente deveriam escutá-la e protegê-la: delegacias da mulher, policiais militares, advogados e mesmo promotores e juízes.

A desvalorização da palavra da mulher e a violência contra a mulher ganham cada vez mais espaços nas diferentes mídias. Mesmo depois da Lei Maria da Penha os índices continuam subindo, e os serviços de atenção a homens autores de violência ainda são insipientes.

Desde o início do relacionamento, Joana percebia que o namorado se alterava em diferentes ocasiões: pequenas agressões verbais, crises de ciúmes, exigências desmesuradas. Nos dois primeiros anos, ela tentava contornar a situação e tratava o namorado de forma meiga e prestativa, acreditando que cabia a ela descobrir como acalma-lo. Joana apostava que com o tempo, ele voltaria a ser romântico e amoroso. E de fato, alguns dias após a crise de violência, ele se arrependia. Na gestação e depois do nascimento do primeiro filho, as cenas de violência se tornaram mais agudas, ganharam novos contornos e mesmo ignoravam a presença do filho. Talvez valesse a pena não denunciar o pai de seu filho, tentar salvar o casamento! E após novo período de harmonia, tudo recomeça e com o passar do tempo, Joana começou a perceber que havia caído em uma armadilha. O que fazer?

O ciclo da violência se desenvolve e se instala de forma sorrateira, nem sempre evidente e visível, sem testemunhas…. Na primeira fase a mulher nega a sua percepção. Afinal, ele trabalha tanto…. Está tão cansado…. Foram apenas algumas cervejas a mais…. Ela desacredita naquilo que vê e sente. No entanto, quando a violência rompe as barreiras do suportável, quando a relação foge do controle e agressões agudas se sucedem, a mulher fica cada vez mais assusta e acuada. Instalada a tensão, na segunda fase do ciclo da violência, o agressor se ajoelha e pede perdão. Jura que está arrependido e renova juras de amor. Ela resiste mas acaba cedendo ao tão deseja e esperado “amor de sua vida”.

Mesmo quando a mulher toma coragem de fazer uma denúncia, 42,8% dos denunciados ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) não viram réus. Para a juíza Teresa Cristina Cabral citada no artigo, não há testemunhas na violência doméstica, é a palavra da vítima contra a do agressor. Mesmo sem a conclusão do inquérito, a juíza informa, a vítima pode ter uma medida protetiva, solicitada pela delegacia, pelo Ministério Público ou pela Defensoria. “Não significa que a vítima está sem proteção. Mas é grave o fato de o agressor não estar sendo responsabilizado criminalmente pelo que fez. ”

 

Custa muito caro a essas mulheres não acreditarem na sua percepção. Mesmo porque todas as instâncias de denúncia parecem desconfiar de suas palavras. Procure um advogado e não desista.

 

Anna Mehoudar e Elisabeth Antonelli são psicanalistas.