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Elisabeth Antonelli
dezembro 16, 2016

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O amor nas fronteiras do eu

O presente artigo visa problematizar a questão do desejo do paciente borderline por situações turbulentas, relações turbulentas, tese defendida por Bollas. Pretendo trabalhar com a hipótese de que em tais situações o paciente faz do próprio corpo um corpo anestesiado, que servirá de suporte para angústias impensáveis. A partir da análise do filme She so lovely (1997), pretendo ilustrar tal função do próprio corpo.

Introdução

Love is that kindness, so rarely kind, and never at all proper.
B. R. Dignin, 1892

 

Se o amor pode desestabilizar pessoas sãs, o que não poderá causar a quem já é louco?

E se, além do mais, o excitante for a loucura?

Christopher Bollas em artigo seminal “O Desejo Borderline” abre pistas interessantes para pensarmos a questão que pretendo trabalhar neste texto. O autor faz uma importante pergunta: será que as frequentes tempestades emocionais de um paciente borderline, que provocam fragmentação e desorganização crescentes, apontariam na direção de um estranho objeto de desejo?

O presente estudo terá como foco o corpo. Poderíamos, seguindo o autor, complementar a pergunta: as frequentes automutilações, acidentes de toda ordem, que são características do paciente borderline, poderiam apontar para o corpo como suporte de angústias impensáveis[1]? Teriam estas como referência a busca do objeto primário, fundamental para nossa constituição humana (nascemos desamparados e precisamos na base de um suporte materno), porém perdido em tempos imemoriais da própria história?

Para poder trabalhar tais questões, analiso o filme She´s so lovely (“Loucos de amor”, dir. Nick Cassavetes, França, EUA, 1997).

O filme começa e termina com uma panorâmica sobre a cidade. Uma cidade qualquer, como outra qualquer, num dia qualquer. É uma história anônima como a de tantas pessoas, justificada sob o nome do amor. Pouco se fala disso, pouco sabemos sobre o amor e seus desvãos. Porém é certo que é uma história mais comum do que se tem notícia. Nick Cassavetes certamente sabe trabalhar com o tema das famílias disfuncionais…

Maureen, à beira de um colapso nervoso, grávida, sem dinheiro, procura desesperadamente o marido Eddie, desaparecido há dias. O vizinho de corredor do hotel precário aonde vivem os personagens a convida para beber, ela recusa. Sai em busca do marido e vai ao bar de costume. Lá chegando, encontra amigos que lhe dizem: “Não é como se ele nunca tivesse desaparecido antes. Você conhece esta prática. Espera por ela”. Como se ela estivesse à busca disto?

Mais à frente, exaurida pela inutilidade das buscas, bate à porta do vizinho, entra e se embriaga. O preço é alto – o vizinho a estupra e agride. Ela sai com a face muito machucada, exausta e mais perdida do que quando entrara. Sai desgovernada, dirigindo sob uma chuva torrencial .Meio sem rumo chega à delegacia e não sabe o que fazer: se denunciar o vizinho, Eddie poderá chegar a matá-lo. Seu atordoamento, os sinais visíveis de agressão, somados à extensa ficha criminal de Eddie fornecem indícios para a delegada concluir que ela fora agredida por Eddie, e Maureen não consegue desfazer o engano. Combina com a delegada que em caso de necessidade telefonaria para a delegacia e vai embora.

Na rua, leva um tombo, ensopando-se e piorando mais e mais sua situação. Porém parece não se importar – não “sente” seu corpo? – não sabemos bem por quê, e entra no primeiro bar que encontra. Lá se acha Eddie, que se põe a conversar com ela no que se poderia chamar clara demonstração de amor, mas não levando em conta tempo nem espaço, dá notícias de um amor de um tipo fusional. Pergunta sobre os ferimentos no rosto, ela alega que foi uma queda na rua. Ele a leva ao hospital, e, ao ser examinada, sente cócegas! O que se passa com Maureen/Eddie? Enciumado, Eddie a retira da consulta, e saem para a noite, dançam e comem.

Ao chegarem ao hotel, avistam o vizinho no corredor. Maureen se lança sobre ele batendo e gritando, pedindo que Eddie também bata nele. O marido não sabe por que deveria fazê-lo, mas acaba socando o homem. Vai ficando clara a impulsividade dos dois, que no caso de Eddie pode se tornar incontrolável, com risco de atos criminosos.

Na manhã seguinte Eddie, que já dava sinais de surto psicótico, com histórias desconexas, entende que fora enganado e que Maureen tinha mentido para ele. Quando Maureen acorda, percebe que ele está armado, dizendo que vai trucidar o vizinho.

Na sequência Maureen avisa a delegada por telefone.

Eddie está no balcão do bar e quando a polícia chega, ele atira, se joga contra a vidraça e sai correndo pela rua. Senta numa praça, sente calor e abaixa as calças e se espanta ao ver que está cercado por policiais.

Na cena seguinte, Eddie aparece já internado e vestindo uma camisa de força. Maureen vai visitá-lo na cela, declara sua culpa dizendo que o vizinho a tinha agredido, que ele está doente e que virá buscá-lo em três meses.

Corte. Dez anos depois.

Maureen casou-se, tem três filhas (sendo a primeira de Eddie) e uma vida estável, amparada financeiramente pelo segundo marido.

Eddie é liberado, acreditando que só se passaram três meses. Aprendeu a controlar a impulsividade, mas ainda lhe falta a consciência espaço/tempo. Ele vai procurar a ex-mulher.

No meio do desespero, Maureen tenta o suicídio e Eddie, que está espiando a casa dela, acaba salvando-a.

Fica claro que existe nela uma grande divisão de sentimentos entre a família construída durante esses anos e o amor por Eddie. Vai ficando claro também que tais personagens, embora desajustados, são capazes de uma sinceridade sem tamanho. Maurren é sincera e Eddie também. Eles são adoráveis, inconsequentes porém totalmente compreensíveis, do ponto de vista dos afetos envolvidos.

Em uma luta corporal bastante confusa, Eddie consegue desarmar o marido atual de Maureen (aprendera na internação a ter controle sobre a impulsividade e a vontade de resolver as questões pelo assassinato) e diz então ao outro homem: “Ela não te ama, ela não me ama, ela é adorável (she’s so lovely)”. Não se pode esperar estabilidade vinda de Maureen, ela tem o encanto da imaturidade emocional, que também provoca irritação e desespero no outro, por parecer histeria.

Maureen acaba por seguir Eddie, abandonando tudo que tinha sido construído nesses dez anos, marido, três filhas, casa…

Este breve relato do filme, que certamente não dispensa assisti-lo, é suficiente para o presente estudo, ajudando a encontrar elementos que permitam avançar a hipótese: Maureen (borderline) coloca o próprio corpo em estado de anestesia, encontrando deste modo o suporte para angústias impensáveis? Ou mesmo coloca seu corpo em estado de intensa dor em função de uma relação fusional marcada pela impossibilidade de viver a separação? Afinal, o segundo companheiro, Joey, é que não suporta ser abandonado, então nessa nova relação ela não corria perigo.

 

O DESEJO BORDERLINE

Assim tendo nós, ao mesmo tempo,consciência do exterior e do espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de duas paisagens. Ora essas paisagens fundem-se, interpenetram-se, de modo que o nosso estado de alma, seja ele qual for, sofre um pouco da paisagem que estamos vendo – num dia de sol uma alma triste não pode estar tão triste como num dia de chuva – e, também, a paisagem exterior sofre do nosso estado de alma – é de todos os tempos dizer-se, sobretudo em verso, coisas como que “na ausência da amada o sol não brilha”, e outras coisas assim. De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de a dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Resulta que terá de tentar dar uma intersecção de duas paisagens. Têm que ser duas paisagens, mas pode ser – não querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem-que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior.[…]

Fernando Pessoa in Cancioneiro

 

O excerto de Fernando Pessoa citado acima contempla de forma literária a questão dos espaços internos e externos, trabalhada a partir da perspectiva do exterior e do espírito, e com grande sensibilidade demonstra uma tese psicanalítica: sendo o “espírito” uma paisagem tanto quanto o mundo externo, a consciência precisaria dar conta das duas paisagens que se interpenetrariam e a arte seria dar conta das duas paisagens, fenômeno que não acontece com o borderline. Este, como outros pacientes difíceis, não neuróticos, termina por fazer acontecer no exterior parte da turbulência que sente ou simplesmente sai em busca dessa turbulência mundo afora.

Maureen está grávida, esfomeada, sem dinheiro, no começo do filme. Por que se deixou ficar nessa situação? Eddie frequentemente a deixa abandonada à própria sorte e ela fica? Quando tenta se consolar com um amigo em comum, este nos dá uma importante pista: desde a abertura do filme podemos nos fazer a seguinte questão: quem é Maureen? Ela sabe quem é?

Ora, é certamente disso que se trata ao pensarmos na clínica dos borderlines. Tais pacientes não sabem quem são, têm uma questão de identidade muito crucial e ardida. O borderline traz como restos/relíquias da infância mais arcaica uma insuficiência de identificações. Isso o conduz a uma busca de identificações alimentadoras, mantendo-se aberto e poroso ao seu ambiente e às pessoas à sua volta.

Green (1988) foi o autor que mais se dedicou a estudar a metapsicologia do borderline (fronteiriço, estado-limite são outros nomes usados). Ao iniciar seu capítulo sobre o conceito do fronteiriço, no primeiro parágrafo nos dá notícia da importância que estudar esta questão adquire na nossa clínica contemporânea: “O protótipo mítico do paciente do nosso tempo já não é mais Édipo e sim Hamlet”. Realça desse modo a desventura da nossa modernidade sincopada: um homem que já não sabe mais de si mesmo – “ser ou não ser, eis a questão”.

Os termos fronteira, borda, limite estariam referidos a uma tendência à insanidade, como se houvesse uma linha que demarcasse a separação entre a sanidade e a insanidade (loucura)? Porém, em vez disso, o que temos é um vasto território, sem nenhuma divisão, nenhuma demarcação. Guardemos esta importante informação: o fronteiriço é alguém cujo processo de subjetivação não se completou, as fronteiras entre dentro e fora, eu e não eu, não se estabeleceram satisfatoriamente, portanto a grande problemática gira em torno da identidade. O borderline não sabe quem é e fabula que pode vir a ser quem imagina que quer ser.

Para fins do presente artigo, pretendo centrar a atenção na questão da relação do borderline com o objeto primário nos efeitos duradouros e estruturantes da vida psíquica. Parece-me que no caso do borderline o caminho é bastante tortuoso. Como esse objeto foi insatisfatório, o paciente se vê impossibilitado de substituí-lo/simbolizá-lo, o que acarreta angústia de separação, por um lado. Por outro lado, como não tem uma barreira de proteção adequada, que lhe permita manter uma boa distância para relações interpessoais, a aproximação, mesmo que solícita, do outro sempre é sentida como excessiva, gerando uma angústia de intrusão. Isso produz um efeito paradoxal para o borderline e para quem com ele convive. O conflito circunscreveu-se ao Ego e o objeto. Ou seja, um paciente borderline puxa e empurra, ama e odeia, gruda no seu analista e abandona o tratamento. E também usa o corpo como uma espécie de plataforma para desencadear a avalanche de afetos desorganizados que o acomete – pode se automutilar, deixar-se acidentar, deixar-se ser agredido etc…

O borderline sofreu de carências objetais profundas e, portanto, não teve contempladas suas necessidades narcísicas fundamentais e constituintes: como aponta Green (1988), esses pacientes parecem magoados em seu ser. As feridas narcísicas vêm sangrando.

Não temos nenhuma informação desse tipo sobre Maureen, mas sabemos que a separação é insuportável, e Eddie vive sumindo, o que acarreta frequentes desabamentos de Maureen – ela bebe, sai como louca pela rua, entra na casa do vizinho imprudentemente. E, finalmente, quando Eddie é internado, constitui família com Joey, mas o abandona, como se estivesse à espera que Eddie a viesse buscar e esse tempo tivesse sido o da espera por ele.

Christopher Bollas (2003, p. 7), autor de um artigo muito original e fecundo sobre esse tipo de padecimento psíquico, afirma:

O trabalho com pacientes borderlines sugere a seguinte hipótese: tenham sido eles crianças inerentemente perturbadas ou desorganizadas pelo ambiente, ou ambos, seu objeto primário é menos uma possibilidade de introjeção… e mais um efeito recorrente no self. Como o vento sopra entre as árvores, é algo que se move através do self… tal turbulência não é simplesmente um afeto. Este estado mental tem como característica uma intensidade mental violenta – um pensar, pensar, e mais uma vez pensar sobre x – geralmente acompanhada de um falatório inútil…

A busca para a satisfação das necessidades básicas torna-se inoperante, dado que a matriz objetal gravada foi a de um objeto que não silencia, não ampara e nutre, simplesmente não esteve disponível (por qualquer razão que o tenha impedido) ao infans. Este, além de ficar lançado à própria sorte, tem cravadas em si as marcas da turbulência que um ser em nascimento psicológico vivencia. E essa vivência deixa marcas profundas, não verbais e inacessíveis ao próprio indivíduo. Temos notícias desses acontecimentos em idade tão tenra por meio dos fatos narrados pelo paciente, mas principalmente pela contratransferência, que adquire um valor fundamental para esta clínica.

Wilfred Bion (1987, p. 247), autor de uma teoria psicanalítica que contempla de maneira bastante abrangente tais estados, tem uma expressão curiosa para os encontros humanos em geral, mas que acredito serem em especial buscados pelo borderline. Cito aqui:

Quando duas personalidades se encontram, cria-se uma tempestade emocional. Se elas fazem contato suficiente para se darem conta uma da outra, ou mesmo o suficiente para não se darem conta uma da outra, produz-se um estado emocional pela conjunção desses dois indivíduos, e a perturbação resultante dificilmente será considerada, necessariamente, um avanço sobre a situação caso jamais houvessem se encontrado. Entretanto, uma vez que houve o encontro, e uma vez que essa tempestade emocional ocorreu, as duas partes envolvidas nessa tempestade podem decidir “tornar proveitoso um mau negócio”. (Tradução livre.)

A turbulência emocional é um fenômeno humano. Dentro da situação analítica, a turbulência pode ser examinada, e é essa possibilidade que põe em movimento a cena analítica, o jogo das emoções dentro da sessão. O par transferência-contratransferência constitui uma unidade da qual o cerne é a eficácia analítica.

Citando Bollas mais uma vez: Mesmo que aquela paciente perseguisse seu objeto –agora sob a forma de uma turbulência de elementos fragmentados – sentia-se mais próxima de mim quando eu me tornava aquele que provocou tal angústia”.

Maureen sai do apartamento do vizinho desgrenhada (e evidentemente estuprada) e em muito pior estado que antes. E para onde vai? Sai pela rua, meio sem rumo e vai ao chão, de cara, piorando ainda mais seu estado. Será que ela sente seu próprio corpo nesse momento? Percebe que está correndo perigo? Sente dor? Grávida, esfomeada, agredida, parte para a delegacia. É interrogada pela delegada, mas esta, mesmo que tenha se mostrado atenciosa, acaba descartada por Maurren, como frequentemente acontece com o analista face o paciente borderline, que supostamente chega esfomeado por atenção. Portanto temos a impressão de que frente a tanta dor pelo abandono sofrido desde o sumiço de Eddie, Maureen não se dá mais conta de si mesma e seu corpo vira uma espécie de apoio para angústias impensáveis. E é desse modo que ela continua indo para frente e para frente e para frente.

E por que o borderline “puxa e empurra”, como colocado anteriormente? Nas suas especulações metapsicológicas, Green propõe “não uma teoria da clinica, mas um pensamento clínico” (Candi, 2010, p. 195) que acaba encontrando um solo fértil, embora muito angustiante frente à problemática dos estados limites, cujo desafio é trabalhar nos limites do analisável. Formula então a noção da função do limite como conceito, definido por sua funcionalidade.

Para Green, a garantia de funcionalidade do aparelho psíquico reside em duas áreas fronteiriças: “A primeira área permite a delimitação e a integração do mundo de dentro e do mundo de fora, e a segunda (que será comparada ao pré-consciente) serve de barreira de contato entre os conteúdos conscientes e inconscientes, funcionando como uma pele para a vida fantasmática do inconsciente” (Candi, 2010, p. 200).

Nosso paciente borderline quando puxa e empurra está tentando viver no real sua subjetividade, encarnando num acting desesperado suas angústias. Nesse movimento o próprio corpo pode servir de palco para tal encenação, tanto anestesiado, como vemos em muitas cenas nas quais Maureen se deixa abater, como em momentos nos quais a dor da automutilação fornece um “local”, uma espécie de paisagem exterior para as angustias impensáveis.

E, voltando a Fernando Pessoa, deste modo funde-se a paisagem, fica uma só.

 

Referências bibliográficas

ANTONELLI, E. Em defesa de uma certa porosidade. Percurso, rev. de Psicanálise, n. 42, 1998.

BOLLAS, C. O. Desejo Borderline. Percurso, rev. de Psicanálise, n. 30, 2003.

CANDI, T. S. O duplo limite: o aparelho psíquico de André Green. São Paulo: Escuta, 2010.

GREEN, A: Histeria e estados-limites: quiasma. Novas perspectivas, Revista Brasileira de Psicanálise, vol. 36, n. 2, 2002.

_____ . O conceito de fronteiriço. In Sobre a loucura pessoal. Rio de Janeiro: Imago, 1988.

SANTOS, E. Angústias impensáveis: mudanças na psicanálise tradicional. Disponível em: <www.psicanaliseefilosofia.com.br/textos/angustias%20impensaveis.pdf> Acesso em: 8 ago. 2016.

[1] Para compreender o sentido de “angústias impensáveis” precisamos entender um pouco da psicanálise winnicottiana. As angústias são definidas como impensáveis porque, por um lado, “não são definíveis em termos de relações pulsionais de objeto, baseadas em relação de representacionais de objeto (percepção, fantasia, simbolização)” e, por outro lado, “porque estamos nos referindo a um momento pré-verbal, pré-psíquico e pré-representacional, anterior ao início de qualquer capacidade relacionada a mecanismos mentais e muito anterior ao reconhecimento de impulsos instintuais como fazendo parte do si-mesmo e tendo um significado”. As angústias impensáveis, portanto, são traumas localizados nos estágios iniciais do processo de amadurecimento humano, entendendo-se trauma, neste início, como quebra da continuidade na existência de um indivíduo. Depois de uma experiência traumática, defesas são organizadas a fim de evitar que as angústias impensáveis voltem a ser experienciadas. “Quando o padrão do ambiente é traumático”, esclarece Elsa O. Dias, “ocorre uma interrupção do processo de amadurecimento. As angústias impensáveis quebram a incipiente integração, isto é, a incipiente experiência de um si-mesmo, de qualquer grau ou tipo, mas anterior à constituição de um eu, que existe por ocasião do fracasso ambiental” (disponível em: www.psicanaliseefilosofia.com.br/textos/angustias%20impensaveis.pdf, acesso em: 8 ago. 2016).