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Elisabeth Antonelli
agosto 29, 2016

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Lugar de mulher é em casa

A violência contra a mulher é definida pelo Observatório Brasil da igualdade de gênero como “qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado”.

Enquanto violação dos Direitos Humanos a violência contra a mulher começa a ser denunciada por canais públicos de comunicação ainda subutilizados pela maioria da população atingida.

Os dados nacionais sobre a violência contra as mulheres apontam para um problema de proporções epidêmicas, diluindo a falsa oposição entre dilemas pessoais e conflitos culturais.

As questões envolvidas na violência contra a mulher são de várias ordens e provém de várias camadas do tecido social. A nossa proposta neste texto será abordar a mensagem subliminar presente nas falas cotidianas tanto de homens quanto de mulheres que incitam a desvalorização e a violência subsequente às mulheres.

Em nossa pesquisa encontramos um importante órgão internacional ONU das Mulheres, atuante para a Igualdade de Gêneros e Empoderamento das Mulheres, a UN Women, the United Nations Entity for Gender Equality and the Empowerment of Women – criada em 2010.

Em 2013 já tinham se feito esta mesma pergunta e a foto acima é um dos frutos da pesquisa realizada pela empresa Memac Ogilvy & Mather Dubai.

Na foto observamos a boca das mulheres sendo caladas na marra, com frases, que para grande surpresa, se revelaram universais!

As mulheres deveriam

  • Ficar em casa
  • Ser escravas
  • Ficar na cozinha
  • Ficar quietas na igreja

As mulheres não podem

  • Dirigir
  • Ser bispos
  • Ser confiadas
  • Falar na igreja

As mulheres não deveriam

  • Ter direitos
  • Votar
  • Trabalhar
  • Praticar boxe

As mulheres precisam

  • Ser colocadas em seus lugares
  • Saber o lugar delas
  • Ser controladas
  • Ser disciplinadas

 

Existe uma violência quase imperceptível contra a mulher, naturalizada pela cultura, exercida tanto por homens como por mulheres. Essa violência faz a mulher duvidar da sua própria percepção. Frases se multiplicam de boca em boca: as mulheres são descontroladas, as mulheres precisam ser disciplinadas, as mulheres não podem ter direitos, não podem votar, e todas as demais frases que a própria campanha encontrou na pesquisa e que são usadas para calar a voz das mulheres, que são ditas pelas próprias mulheres, incitam e autorizam a violência e  certo desprezo pela mulher.Como podemos verificar nas frases citadas na pesquisa feitas nos EUA parece que a gente esáa na Idade Média! E, enquanto não nos conscientizarmos dos efeitos desse imaginário inconsciente, tão presente no nosso cotidiano, seguimos supondo termos conseguirmos avanços que não passam de miragens!

Assistimos estupefatas, a violência crescer entre casais de jovens universitários! As jovens mulheres acreditam que teoricamente avançaram no próprio empoderamento e no feminismo, mas seu companheiro não suporta a potência da companheira e ao se sentir “provocado” sente-se no direito à agressão. Lamentável. Autorizado pelo imaginário popular.

Nas classes mais baixas este fenômeno que estamos chamando de imaginário inconsciente tenha maior visibilidade, certamente maior violência e maior impossibilidade de mudança. Vamos então acompanhar a jornada de uma das muitas marias. Maria sai de casa cedo e volta tarde do seu trabalho como empregada doméstica. Quando chega em casa cansada do trabalho e do tempo de locomoção, se desespera com o jantar por fazer, a louça por lavar, e a roupa para lavar e a casa para arrumar. Ela tentava de todas as formas deixar a sua casa tão arrumada quanto a casa dos patrões. Mas não adiantava pedir a colaboração dos filhos e muito menos do marido, pois estava implícito que cabia à mulher zelar pela ordem da casa. Aliás, Maria também acreditava que “lugar de mulher é na cozinha” e que só ela sabia cuidar “direito” da casa. E quando ela começava a gritar, era a louca, a desequilibrada, a resolveu começar a deixar a casa. Ela chegava e sentava no sofá exausta. Ao desistir de lutar contra seu próprio cansaço, inverteu a lógica machista. Não restavam mais pratos, copos e muito menos talheres limpos.

Como é isso de achar que é mãe que tem que cuidar da casa? Ou a irmã? só as mulheres? casa é coisa de mulher? lugar de mulher é a casa?

Maria, a personagem da nossa história se pergunta se é nervosinha mesmo, se está ficando louca, se está exagerando. E enquanto ela fica nessa confusão a bagunça fica lá!

Trata-se de uma violência menos explicita que aquela dita por inominável figura pública: “Não te estupro porque você não merece”. Ou “mulher deve ganhar salário menor porque engravida”

Considerando fundamental situar a violência contra as mulheres epidêmica e que nos alcança no dia a dia, cabe a cada um de nós cidadãos, nos perguntar quando e de que forma colaboramos cotidianamente para essa perpetuação das desigualdades.

 

Anna Mehoudar e Elisabeth Antonelli 29/08/2016