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Elisabeth Antonelli
agosto 1, 2016

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Agosto dourado: Você tem fome de quê?

O mês de agosto é conhecido como Agosto Dourado, porque simboliza a luta pelo incentivo à amamentação. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro de qualidade do leite materno. É uma cor toda especial, que já percorre o mundo com o seu laço simbólico. São trinta dias, em que são celebrados a promoção, a proteção e o apoio ao aleitamento.

Quando falamos em amamentação, falamos dos primórdios da constituição do sujeito, momento privilegiado, quando ainda não existe uma separação entre o bebê e a sua mãe.

Nascemos indiferenciados, ainda imaturos do ponto de vista animal, comparando, por exemplo, a um filhote de cachorro, que em pouco tempo adquire sua independência, a partir dos reflexos prévios. Por sermos dotados de um sistema de linguagem, não existimos sem o outro.E , nos começos, mais ainda.Os cuidados nesta etapa da vida são decisivos no destino da nossa vida mental.

O cuidado materno é fundamental para o desenvolvimento do psiquismo do lactente. Junto com o leite o bebê recebe o amor da sua mãe e, neste mesmo ato o bebê pode outorgar a esta mãe a capacidade de decifrar os estados penosos que protagonista.

A alimentação do filhote humano depende de todo o aparato psíquico da mãe, que servirá de suporte para o desenvolvimento do aparato psíquico do bebê. E, embora certamente o aleitamento no peito seja o mais desejável, as mesmas condições precisarão ser mantidas no aleitamento na mamadeira, portanto as mesmas dificuldades brotarão.

Alimento e amor. Disso dependemos para nosso desenvolvimento físico e emocional. “O estômago é, pois, como uma miniatura interna de boa mãe” (Winnicott, 1979, p39).

A futura mãe passa a se sentir necessitada e dependente, desde a gravidez, e com esta novidade quase nunca foi preparada anteriormente. Do mesmo modo que muito se espera de uma futura mãe, são negadas as condições necessárias para que ela possa sustentar tal papel. E, em especial, o pai, que pode ou não ser seu marido, precisaria ter asas grandes o suficiente para proteger este ninho que vai ser inaugurado.

Somos seres desamparados que temos crias desamparadas que precisam de nós. Esse fato pode fundar uma tragédia ou pode construir a preciosidade do humano.

Winnicott (2000. p401) chama de “Preocupação Materna Primária” o estado que a mãe vivencia perto do parto e nas primeiras semanas a partir do nascimento do bebê. Nesta fase de adaptação ao bebê, a mãe entra num estado muito especial, de uma espécie de retraimento ou dissociação, ou fuga, semelhante a um estado esquizoide. O autor descreve tal estado:

Gradualmente, esse estado passa a ser o de uma sensibilidade exacerbada durante e principalmente ao final da gravidez.

Sua duração é de algumas semanas após o nascimento do bebê.

Dificilmente as mães o recordam depois que o ultrapassaram.

Eu daria um passo a mais e diria que a memória das mães a esse respeito tende a ser reprimida. (2000, p401).

Os primeiros momentos da vida de um bebê carecem de toda atenção da mãe que precisaria também contar com a atenção redobrada seja do marido, da família, enfim, a sociedade deveria ser convocada a acolher as parturientes amamentadoras para que este processo pudesse ocorrer da melhor forma possível. Sem contar com as possíveis dificuldades que o bebê possa trazer. Estou descrevendo as dificuldades simples, em situações normais.

Falar em amamentação necessariamente é uma convocação às condições necessárias para que a mãe possa produzir leite, que é um ato de amor por excelência!